Observando o universo cristão sob o ângulo
da missão - seja na formalidade de um ministério definido ou na informalidade
de um serviço diário - percebe-se claramente a necessidade de equilíbrio entre
competência e eficácia.
Competência é a capacidade adquirida em
alguma área. Isto é, capacidade para aprender uma língua, estudar uma cultura,
liderar uma equipe, evangelizar um grupo, coordenar um projeto social ou
plantar uma igreja. Não é a ação em si, mas a aptidão de agir. A competência é
reconhecida pelos que estão ao redor, produz segurança e transmite
credibilidade.
Já a Eficácia é a capacidade transformada em ação. Enquanto a
competência está enraizada na capacidade, a eficácia é demonstrada na
realização. Ela está presente, especialmente, em processos mais objetivos,
proativos e simplificados. Podemos pensar que “competente” é quem sabe o que
está fazendo e “eficaz” é aquele que dá conta do recado.
Há também quem diga que a distância entre
a competência e a eficácia é a mesma entre o engenheiro e o construtor.
Precisamos de ambas, ou melhor, de um equilíbrio entre as duas forças. A
competência nos direciona à aptidão para um trabalho sério, bem embasado e com
conhecimento de causa. A eficácia nos leva para a reta final, para a produção,
ajuda-nos na objetividade e na manutenção do foco de nosso trabalho.
Observando a caminhada da Igreja
brasileira - e sua relação com a missão
- causa-me temor perceber os dois
extremos, igualmente danosos. Competência sem eficácia gera especialistas,
mestres e doutores das áreas de conhecimento da missão, porém sem iniciativas
aplicadas aos que sofrem, desconhecem o Evangelho ou necessitam de pastoreio.
Eficácia sem competência gera ações pragmáticas, desmedidas e, mesmo,
antibíblicas, que mais espalham do que juntam.
Destino estas próximas linhas àqueles que
se encontram na segunda categoria - competência sem eficácia -, por entender
que é um perigo mais iminente em nossos círculos. Enquanto valorizamos de forma
exclusivista o conhecimento e as respostas em detrimento das relações e
iniciativas, corremos o risco de nos perder nas questões “de meio”. O perigo é
chegarmos ao final de uma temporada com muito conhecimento, mas pouca
aplicação. Muita compreensão, mas pouca
produção. Com mais competência que eficácia.
É rotineiro observar que assuntos de menor
importância (ou pouco associados ao nosso alvo maior) ganhem o centro do palco
de nosso dia a dia, o que pode nos levar à frustração de vida e ministério em
algum ponto.
Devemos sempre relembrar a pergunta chave:
qual o presente objetivo de minha vida e ministério? A resposta deve nos
conduzir de volta ao essencial. Paulo entendia que a finalidade da igreja era a
glória de Deus e a sua prioridade era proclamar Cristo onde não havia sido
anunciado. Estes são os grandes alvos. Ao longo da estrada estes alvos maiores
se traduzem em objetivos temporários como o testemunho na família, o
discipulado de um irmão, a colaboração no orfanato, a ajuda ao que está caído
ao longo do caminho ou a busca por uma vida mais santa. Neste caso é importante que nos perguntemos
se as práticas associadas a estes objetivos estão no centro do palco da nossa
vida. E para saber localizar o assunto no palco você pode seguir esta pista: o
que consome o seu tempo, energia e dinheiro é o que está no centro do palco.
Gosto de observar missionários. Ouvi-los
contando suas histórias e ver como agem nos campos. Há algum tempo, tivemos a
oportunidade de trabalhar com aproximadamente 30 missionários que atuam em
áreas desafiadoras do norte da Índia. Não tenho dúvida: os que conseguem
equilibrar a competência e eficácia completam a carreira olhando com mais
alegria para trás. Esses aproveitam a oportunidade para conhecer as
estratégias, técnicas, política, língua, cultura e vida em equipe, mas ao mesmo
tempo não se deixam amarrar com as questões “de meio”. Correm para a realização
dos objetivos prioritários. Os que não equilibram tendem a se frustrar, seja
por conhecimento sem prática ou prática sem conhecimento.
É preciso simplificar nossos pensamentos e
dias para caminharmos bem, tendo em mente, de forma clara, qual o presente
objetivo do Senhor para cada um de nós, na estrada que trilhamos. Pensemos em
uma pequena equipe que chegou a Nova Deli para trabalhar com crianças dalit. Se
pela manhã estudam a estratégia para o trabalho com as crianças abandonadas,
preparam o material e conduzem o treinamento necessário, e pela tarde e noite
estão nas ruas conversando com essas crianças e conduzindo-as a um abrigo - e a
Jesus -, está clara e abençoada conciliação entre competência e eficácia. É
simples assim.
Que o Senhor nos ajude a equilibrar sempre
a balança em nossas vidas e nos livre de correr atrás do vento. Coloquemos no
centro do palco aquilo que, para o Senhor, é mais valioso.
Fonte:
http://www.ronaldo.lidorio.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=156&Itemid=26
Missionário Ronaldo Lidório
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