Volta e meia, leio algum artigo ou mais
um estudo falando sobre os efeitos negativos do facebook. Já chegou até
ao ponto de ser associado a casos de depressão. Coisa de louco! E aí
comecei a pensar sobre o assunto…
Qual é a grande graça do facebook? Qual é
a jogada que deu certo? Qual é o segredo do Mark Zuckerberg? Bem, ele
simplesmente enxergou uma necessidade primordial do homem e trabalhou em
cima disso. Ou será que foram os irmãos Winklevoss? Enfim. Isso aí é
conversa para os tribunais.
Por que será que não conseguimos ficar
longe do facebook? Entramos para passar uns dez minutinhos, e quinze
minutos depois passaram-se três horas. Não vemos o tempo passar. Mas
somos fisgados por essa ferramenta social. Por que? Bem… pessoas.
Simplesmente. O homem não nasceu para viver só, seja casamento ou
amizade. Eu preciso me socializar com outros. E o facebook “permite”
justamente isso. E não só o facebook. Desde as épocas de ICQ, MSN,
orkut, fotolog, fotolist, blogs, vlogs, twitter, skype, Hi5, linkedin e
por aí vai. As ferramentas sempre foram das mais variadas. O objetivo
continua sendo o mesmo.
Mas será que essas ferramentas são eficazes em alcançar esse objetivo?
Vamos viajar um pouco…
Quantos conhecem a Mona Lisa, o famoso
quadro de Leonardo da Vinci? Difícil não conhecer. Aquela jovem sentada
com vestido escuro e cabelos negros lisos com um esboço de sorriso. Tipo
Gioconda. Já virou, inclusive, até piada no nosso querido facebook numa
suposta propaganda de alisamento de cabelo (Mona lisa X Mona crespa).
Você sabe de qual quadro estou falando. Porém, reza a lenda que quando
as pessoas vão visitar o quadro em si, a tela exposta no museu do
Louvre, ficam um pouco desapontadas. Como? Acham a tela pequena. Ou
seja, pessoas que nunca viram a tela pessoalmente se decepcionam com o
tamanho reduzido do famoso quadro. Desapontamento vem de uma esperança
ou expectativa frustrada. De onde veio tamanha expectativa em torno de
algo que jamais se conheceu? Bem, a fama, a reputação da senhora Lisa
Gherardini se tornou algo numa proporção tão grandiosa que superou o
próprio quadro em si. Não faz sentido. A origem da reputação (o quadro)
está aquém da reputação construída em torno da obra. Ou seja, a origem
do frisson deixa a desejar. Devido a tantas reproduções e, de certo
modo, falsificações da obra, o quadro original perde valor. Cria-se um
simulacro, uma reprodução imperfeita, uma simulação a tal ponto que
aquilo que inicialmente lhe conferiu sentido torna-se vazio. O quadro em
si, por mais que nunca tenha-se verdadeiramente conhecido, se torna uma
decepção.
O que o facebook está fazendo com nossos
relacionamentos? O quanto será que essa ferramenta de socialização está
criando um simulacro de amizade ou até corrompendo a maneira como nos
relacionamos com o próximo?
Estou beirando os dois mil amigos no
facebook. Amigos? Olhando para esta lista, eu talvez conheça (e por
conhecer quero dizer com quem troquei palavras ao vivo, no mínimo)
metade. Dessa metade, talvez quinhentos (estou chutando alto) sejam
pessoas que vejo face a face algumas vezes por ano. Há muitos colegas de
colégio com quem não falo há quase dez anos. Há outros que conheci numa
viagem que fiz e com quem passei uma semana muito legal. E há outros
com quem se quer troquei uma palavra na vida. Não faço a mínima ideia de
quem são. Quando alguém me adiciona, não faço muita questão de filtrar.
Como escrevo um blog e viajo bastante pela minha função na editora,
imagino que sejam pessoas que acompanham meus textos ou com quem
esbarrei numa conferência. Mas além disso, nunca trocamos uma palavra se
quer. Já tive quem me encontrasse num congresso e perguntasse: “Você é o
Andrew do blog do Andrew?” Respondo que sim. Isso é legal, porque a
partir disso inicia-se uma conversa e posso até ter uma resposta aos
meus textos. Mas em outros casos, alguém chega pra mim e fala: “Oi
Andrew, sou seu amigo no facebook.” E fica aquele silêncio. Respondo
educadamente, mas não sei muito o que dizer. Nem ele. Continua o
silêncio estranho, como se tivéssemos uma relação estabelecida
anteriormente e aqui estamos “botando o papo em dia”. Mas nunca houve
papo. Nunca conversamos. No lugar de começarmos uma conversa nova e
criarmos algo a partir do zero, fica aquela reputação, uma ideia de que
já somos amigos.
Será?
Como é que se conhece alguém via
facebook? De verdade? Eu não coloco tudo que sou no “face”, até por uma
questão de segurança. Recentemente, um parente meu começou a namorar e
me espantei quando dei de cara com ele e a menina. Minha reação inicial
foi preocupante: “Mas você não atualizou seu status no facebook! Como
assim você está namorando?” Só foi depois que me dei conta do que eu
tinha pensado. Temos agora o timeline, para a angústia de muitos. Mais
uma ferramenta para postarmos nossa vida (ou pelo menos aquilo que
queremos que seja conhecido) na internet. “Fulano anda sumido, afinal,
quase não posta mais no facebook.” “Estou achando que o João não vai com
a minha cara, afinal, ele não respondeu à minha solicitação de amizade
no facebook.” “Ela está de mal comigo. Sei disso porque ela não curtiu
aquela foto em que estamos juntos. Se quer comentou no meu status hoje.”
Criamos uma nova modalidade de
relacionamento, e nós estamos viciados. Sou o primeiro a admitir o
quanto o facebook tem me feito mal. Estou “por dentro” da vida de
pessoas que, na vida real, não fazem parte da minha realidade. Faz mais
de oito anos que eu não vejo aquela menina com quem eu estudei ao longo
de quinze anos. Hoje eu sei que está casada. Legal. E aí? Alguém fez
aniversário, logo, mandei um recado e tá tudo certo. Quando foi a última
vez que você ligou para alguém no seu aniversário? Pior, quando foi a
última vez que você falou encontrou alguém na semana do seu aniversário e
pensou: “Ih caramba, não dei parabéns. Mas deixei recado no face, então
tá legal.” Como é que a gente foge de encontros reais e saudáveis
lançando mão da praticidade do facebook? É só postar uma foto, entrar no
chat, mandar uma mensagem, criar um evento e tá tudo certo.
Fico pensando em quando lançaram o
cinema 3D e muitos começaram a ter dor de cabeça e náuseas (fui ver
Avatar e aconteceu comigo). Li um estudo que fala que isso acontece
porque o cérebro percebe o movimento e se prepara para que o corpo
responda. Na falta de resposta, da reação normal à percepção de
movimento, essa mistura de sinais causa esses efeitos colaterais. Será
que o mesmo não acontece com o facebook? O meu cérebro percebe uma
realidade e se prepara para uma interação social, mas o meu dia a dia
não corresponde àquilo. Será que é daí que vem meu mal estar?
Deus nos criou à sua imagem e
semelhança. Deus é um Deus relacional. Pai, Filho e Espírito Santo vivem
numa eterna comunhão relacional perfeita. Ao enviar Cristo para morrer
em nosso lugar, o Pai quebrou a barreira entre os mundos divino e
material (dando um nó na cabeça da filosofia platônica) e se colocou
como homem, ao nosso lado, para morrer em nosso lugar. Fomos criados,
tanto biologicamente quanto emocionalmente, para isso. A Bíblia fala
tanto da necessidade de interagir, aprender e servir o próximo e tantas
coisas mais.
Por que será que o facebook causa
depressão? Qual será o desapontamento causado por esse site de
relacionamentos? Ele toma o lugar (teoricamente) das nossas relações
humanas. Por mais que estejamos em contato com nossos amigos ao redor do
planeta, continuamos a mercê da telinha intermediária que tira nosso
sono com “apenas mais cinco minutinhos antes de dormir”.
Sou o primeiro a dizer o quanto o facebook tem me feito mal. O problema é que estou viciado nele e não sei como largar.
Facebook é legal, é prático. Mas nenhuma
mídia, por mais social que seja, é capaz de transmitir a nuança de um
sorriso, a firmeza de um aperto de mão, uma gargalhada constrangedora,
um espirro dado fora de hora, uma palavra balbuciada, uma voz trêmula,
um choro engasgado, um cheiro gostoso ou um abraço apertado.
Tenho que reaprender a me relacionar com pessoas, e creio que não sou o único.
Fonte: http://www.artedechocar.com/
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