Tornou-se moda nos círculos evangélicos falar, quase que sem
hesitação, do amor incondicional de Deus. É certamente uma mensagem
agradável para as pessoas ouvirem e se ajusta a certo tipo de discurso
politicamente correto. Em nosso desejo de comunicar às pessoas a doçura
do evangelho, a disposição de Deus de cobrir nossos pecados com o perdão
e a incrível profundidade do Seu amor mostrado na cruz, usamos uma
expressão hiperbólica para o escopo e extensão do Seu amor.
Onde nas Escrituras encontramos essa noção do amor incondicional de
Deus? Se o amor de Deus é absolutamente incondicional, por que falamos
às pessoas que elas têm que se arrepender e ter fé para serem salvas?
Deus estabelece condições claras para uma pessoa ser salva. É verdade
que, em certo sentido, Deus ama mesmo aqueles que não satisfazem as
condições de salvação, mas essa sutileza é geralmente perdida pelo
ouvinte quando o pregador declara o amor incondicional de Deus. As
pessoas ouvem que Deus irá amá-los continuamente e aceitá-los, não
importa o que eles façam ou como eles vivam. Declaramos assim um
universalismo descarado se falarmos do amor incondicional de Deus sem
uma clara e cuidadosa qualificação do que isto significa.
Um contraste interessante pode ser visto ao comparar a pregação dos
evangelistas dos séculos XVIII e XIX com os evangelistas modernos. A
ênfase nos séculos anteriores estava na ira de Deus direcionada contra
pecadores impenitentes. De fato, a pregação de Jonathan Edwards tem sido
descrita como uma pregação evangelista que empregava uma “teologia do
medo”. Esta abordagem deu lugar uma ênfase mais positiva no amor de
Deus. Claro, Edwards também declarava o amor de Deus, mas não sem
lembrar aos pecadores que enquanto eles continuassem impenitentes,
estariam expostos à ira de Deus e estariam na verdade acumulando ira
contra si mesmos para o dia da ira (Romanos 2.5).
Edwards advertia seu povo que eles eram mais repugnantes a Deus em
seus pecados do que súditos rebeldes eram aos seus príncipes. Essa era
uma parte e uma parcela da proclamação do evangelho da reconciliação.
Não pode haver uma conversa sobre reconciliação sem antes estabelecer
que há uma alienação ou um afastamento anterior. Indivíduos que não
estão em conflito não precisam de reconciliação. O conceito bíblico de
reconciliação pressupõe uma condição de afastamento entre Deus e o
homem.
Muito é dito sobre a hostilidade do homem contra Deus. A Bíblia diz
que somos inimigos de Deus por natureza. Essa inimizade é expressa em
nossa rebelião pecaminosa contra Ele. A visão contemporânea popular
disso é que nós estamos afastados de Deus, mas Ele não está afastado de
nós. A inimizade está em um dos lados apenas. A figura que pintamos é
que Deus continua nos amando com um amor incondicional enquanto
permanecemos com ódio em relação a Ele.
A cruz desmente essa figura. Sim, a cruz aconteceu porque Deus nos
ama. Seu amor está por trás de Seu plano de salvação. Entretanto, Cristo
não foi sacrificado na cruz para nos aplacar ou para servir de
propiciação para nós. Seu sacrifício não foi planejado para satisfazer
nossa inimizade injusta contra Deus, mas para satisfazer a ira justa de
Deus contra nós. O Pai foi o objeto do ato de propiciação do Filho. O
efeito da cruz foi remover o afastamento divino de nós, não nosso
afastamento dele. Se negarmos o afastamento de Deus de nós, a cruz é
reduzida a uma patética e anêmica influência moral sem nenhuma
satisfação substitutiva de Deus.
Em Cristo, o obstáculo do afastamento é superado, e somos
reconciliados com Deus. Mas essa reconciliação se estende apenas àqueles
que creem. Aqueles que rejeitam a Cristo permanecem em inimizade com
Deus, afastados de Deus, e objetos tanto de Sua ira quanto de Sua
aversão. Qualquer que seja o tipo de amor que Deus tem pelo impenitente,
ele não exclui Seu justo ódio e aversão deles, que está em forte
contraste com Seu amor redentor.
Traduzido por Alex Daher | iPródigo.com | Original aqui