Por Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Ouvi esta frase, num programa de televisão: “Cada um é livre para fazer o que quer”. Ela me fez pensar.
O homem é dotado de capacidade de pensar
e tomar decisões. É responsável por seus atos. Não se pode impor a
alguém uma religião ou uma ideologia, por exemplo. Pais escrupulosos não
imporão uma profissão a seus filhos. Respeitarão suas habilidades e o
seu pendor. Neste sentido, a frase tem certa razão. Cada um faz o que
quer de sua vida, sendo por isso responsável. Neste sentido, a liberdade
é plena.
Mas nem sempre somos livres para
fazermos o que queremos. Eu gostaria de fazer muitas coisas que
simplesmente não posso. Neste sentido, não somos livres para fazer o que
queremos. Querer não é poder. Podemos querer coisas que não podemos
ter.
Há coisas que não apenas não podemos
fazer, mas que não devemos fazer. Um homem pode desejar ter todas as
mulheres do mundo, mas ficará no desejo. Alguém disse que Deus é mal
humorado porque parte dos dez mandamentos começa com um não. Ele nos
proibiu coisas boas que gostaríamos de fazer. Por isso diz uma música
popular que “tudo que eu gosto é ilegal, imoral ou engorda”. As coisas
boas são proibidas. Deveríamos poder fazer e ter todas as coisas que
gostaríamos. Abaixo as leis, abaixo os conceitos moralistas, abaixo as
religiões com suas regrinhas! Viva a anarquia, vivam os desejos, façamos
o que queremos e chega de conversa.
Mas isso funciona? Por querer a mulher
de Urias o rei Davi planejou a sua morte. Fez o que quis: adulterou e
idealizou um assassinato. Mas pagou um preço muito alto pelo que fez.
Pode-se fazer o que se quer ou é necessário ter regras? Liberdade é o
direito de fazer o que se quer? O que uma pessoa quer e pensa ser seu
direito pode ser a transgressão do direito de outra.
Deus colocou tantos não nos dez
mandamentos não por mau humor, mas por saber que somos maus, que somos
pecadores. É uma incoerência o conceito humanista de que o homem é bom.
Se o homem é bom, por que a maldade e tantas desgraças? Dizer que ele é
bom e que a sociedade o corrompe é uma incongruência. A sociedade não é
pau nem pedra. É gente. A sociedade é a soma das pessoas, que são más.
Davi confessou sua maldade inata, quando declarou: “eu nasci em
iniquidade” (Sl 51.5). Isso é o que os teólogos chamam de “depravação, a
capacidade inata no ser humano de buscar o mal”. O homem não é bom. É
pecador. Bem disse Billy Graham, “o homem é exatamente aquilo que a
Bíblia diz que ele é”.
Por ser pecador, o homem não pode fazer o
que deseja, pensando que assim é livre. Disse Paulo: “o bem que quero,
esse não faço; o mal que não quero, esse eu faço” (Rm 7.19). Quando
seguimos nossos instintos e paixões, não nos realizamos, mas nos
frustramos. Ouvimos a iniquidade, desprezando leis e princípios que
orientam a vida, e nos tornamos como os irracionais, que não têm
capacidade mental e seguem o instinto. E nos damos mal.
Fazer o que se quer não é ser livre. É
ser escravo. Dos instintos. De uma natureza corrompida. Por isso Jesus
disse que “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34).
Não somos livres quando fazemos o que queremos, e regras e princípios
não são algemas. Imaginemos um trem que quisesse trafegar fora dos
trilhos para poder ser livre. Saísse dos trilhos e entrasse pelo
gramado, cheio de flores, alegre e festivo. Ele afundaria, com seu peso.
Há um lugar para ele transitar e fora deste lugar ele se imobiliza.
Liberdade não é o direito de se fazer o
que se quer. O pensador cristão Elton Trueblood disse que “liberdade não
é liberdade para, mas liberdade de”. Somos livres não para fazermos o
que queremos, mas somos livres de alguma coisa. Somos livres para sermos
o que Deus espera de nós. Como disse Kierkegaard: “Com a graça de Deus
serei o que devo ser”. Jesus ilustrou isto muito bem: “se o Filho vos
libertar, sereis verdadeiramente livres” (Jo 8.36). Liberdade é a
capacidade de poder gerir a sua vida. É a capacidade de viver sem ser
escravo de vícios, de paixões vis, de drogas, da ansiedade, do medo do
futuro. Desde quando uma pessoa escrava de um pedaço de papel com mato
dentro, um cigarro, é livre? Desde quando alguém que não consegue
livrar-se de uma garrafa é livre? Livre é a pessoa que pode dizer: “Isto
me faz bem e eu aceito. Tenho forças para fazê-lo, mesmo não gostando”.
Livre é a pessoa que pode dizer: “Isto é agradável, mas trará más
consequências. É bom, mas tenho a capacidade de rejeitar”. Liberdade é o
direito de saber usar bem a vida, de discernir entre o que se deve e o
que não se deve.
Voltemos a Jesus: “se o Filho vos
libertar, verdadeiramente sereis livres”. Ele dá discernimento
espiritual e moral para sabermos o que buscar e o que evitar. Ele dá
poder para vencer o que é agradável, mas daninho. Ele torna a pessoa
livre. Muita gente censura os crentes, dizendo sermos escravos, que não
podemos fazer muitas coisas. Não é que não podemos. É que não queremos.
Não nos têm valor. Volto à questão do cigarro: é ridículo um adulto
chupando sofregamente um mau cheiroso invólucro de papel com mato
dentro, sem poder parar de fazê-lo, embora muitas vezes querido fazê-lo.
Coisa triste um bêbedo, caído na sarjeta, escravo do álcool. Coisa
deprimente e triste um casal se separando, com os filhos prejudicados,
por causa da infidelidade conjugal de uma das partes.
Os crentes não vivemos debaixo de
regrinhas. Vivemos na liberdade que Cristo nos deu. Ele nos abriu os
olhos e capacitou nossa vida para vencermos o mal que desgraça e
optarmos pelo bem que exalta.
Você pode ser livre. Pode deixar de
fazer o que lhe prejudica e fazer o bem que sabe que deve fazer. Basta
confiar em Cristo, fazendo dele seu Senhor, cedendo-lhe sua vida,
confiando-lhe a direção do seu viver. Você descobrirá o que Jesus quis
dizer com “e conhecereis a verdade e verdade vos libertará”. Jesus é a
verdade que liberta. O resto é mentira. Seja livre. Assuma um
compromisso com Cristo.
***Fonte: Site do autor, via Púlpito Cristão
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