Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes
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“Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.”
O raciocínio vai mais ou menos assim:
quando o Espírito de Deus está agindo num culto, Ele impele os
adoradores a fazerem coisas que aos homens podem parecer estranhas, mas
que são coisas do Espírito. Se há um mover do Espírito no culto, as
pessoas têm liberdade para fazer o que sentirem vontade, já que estão
sendo movidas por Ele, não importa quão estranhas estas coisas possam
parecer. E não se deve questionar estas coisas, mesmo sendo diferentes e
estranhas. Não há regras, não há limites, somente liberdade quando o
Espírito se move no culto.
Assim, um culto onde as coisas ocorrem
normalmente, onde as pessoas não saltam, não pulam, não dançam, não
tremem e nem caem no chão, este é um culto frio, amarrado, sem vida. O
argumento prossegue mais ou menos assim: o Espírito é soberano e livre,
Ele se move como o vento, de forma misteriosa. Não devemos questionar o
mover do Espírito, quando Ele nos impele a dançar, pular, saltar, cair,
tremer, durante o culto. Tudo é válido se o Espírito está presente.
Bom, tem algumas coisas nestes
argumentos com as quais concordo. De fato, o Espírito de Deus é
soberano. Ele não costuma pedir nossa permissão para fazer as coisas que
deseja fazer. Também é fato que Ele está presente quando o povo de Deus
se reúne para servir a Deus em verdade. Concordo também que no passado,
quando o Espírito de Deus agiu em determinadas situações, a princípio
tudo parecia estranho. Por exemplo, quando Ele guiou Pedro a ir à casa
do pagão Cornélio (Atos 10 e 11). Pedro deve ter estranhado bastante
aquela visão do lençol, mas acabou obedecendo. Ao final, percebeu-se que
a estranheza de Pedro se devia ao fato que ele não havia entendido as
Escrituras, que os gentios também seriam aceitos na Igreja.
Mas, por outro lado, esse raciocínio tem
vários pontos fracos, vulneráveis e indefensáveis. A começar pelo fato
de que esta passagem, “onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”
(2Cor 3:17) não tem absolutamente nada a ver com o culto. Paulo disse
estas palavras se referindo à leitura do Antigo Testamento. Os judeus
não conseguiam enxergar a Cristo no Antigo Testamento quando o liam aos
sábados nas sinagogas pois o véu de Moisés estava sobre o coração e a
mente deles (veja versículos 14-15). Estavam cegos. Quando porém um
deles se convertia ao Senhor Jesus, o véu era retirado. Ele agora podia
ler o Antigo Testamento sem o véu, em plena liberdade, livre dos
impedimentos legalistas. Seu coração e sua mente agora estavam livres
para ver a Cristo onde antes nada percebiam. É desta liberdade que Paulo
está falando. É o Senhor, que é o Espírito, que abre os olhos da mente e
do coração para que possamos entender as Escrituras.
A passagem, portanto, não tem
absolutamente nada a ver com liberdade para fazermos o que sentirmos
vontade no culto a Deus, em nome de um mover do Espírito.
E este, aliás, é outro ponto fraco do
argumento, pensar que liberdade do Espírito é ausência de normas, regras
e princípios. Para alguns, quanto mais estranho, diferente e inusitado,
mais espiritual! Mas, não creio que é isto que a Bíblia ensina. Ela nos
diz que o fruto do Espírito é domínio próprio (Gálatas 5:22-23). Ela
ensina que o Espírito nos dá bom senso, equilíbrio e sabedoria (Isaías
11:2), sim, pois Ele é o Espírito de moderação (2Tim 1:7).
Além do uso errado da passagem, o
argumento também parte do pressuposto que o Espírito de Deus age de
maneira independente da Palavra que Ele mesmo inspirou e trouxe à
existência, que é a Bíblia. O que eu quero dizer é que o Espírito não
contradiz o que Ele já nos revelou em sua Palavra. Nela encontramos os
elementos e as diretrizes do culto que agrada a Deus.
Liberdade no Espírito não significa
liberdade para inventarmos maneiras novas de cultuá-lo. Sem dúvida,
temos espaço para contextualizar as circunstâncias do culto, mas não
para inventar elementos. Seria uma contradição do Espírito levar seu
povo a adorar a Deus de forma contrária à Palavra que Ele mesmo
inspirou.
Um culto espiritual é aquele onde a
Palavra é pregada com fidelidade, onde os cânticos refletem as verdades
da Bíblia e são entoados de coração, onde as orações são feitas em nome
de Jesus por aquelas coisas lícitas que a Bíblia nos ensina a pedir,
onde a Ceia e o batismo são celebrados de maneira digna. Um culto
espiritual combina fervor com entendimento, alegria com solenidade,
sentimento com racionalidade. Não vejo qualquer conexão na Bíblia entre o
mover do Espírito e piruetas, coreografia, danças, gestos. A verdadeira
liberdade do Espírito é aquela liberdade da escravidão da lei, do
pecado, da condenação e da culpa. Quem quiser pular de alegria por isto,
pule. Mas não me chame de frio, formal, engessado pelo fato de que
manifesto a minha alegria simplesmente fechando meus olhos e agradecendo
silenciosamente a Deus por ter tido misericórdia deste pecador.
***Fonte: O Tempora! O Mores!
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